Para autoridades chilenas e brasileiras, o corredor bioceânico não passa por San Juan, mas sim por Jujuy e Salta
A situação ressalta o abandono que a iniciativa vem sofrendo nos últimos anos por parte de antigas autoridades provinciais, que muitas vezes a viam como nada mais do que viagens e boas intenções, refletidas na mídia, refletindo as expectativas e esperanças das comunidades de ambos os lados dos Andes. Um verdadeiro abandono da integração regional em favor da priorização de outros tipos de projetos, o que no caso de Água Negra representou apenas alguns bons modelos.
Essa situação contrasta com as altas expectativas que se vivem atualmente no Brasil, às vésperas da visita de Estado do presidente Gabriel Boric ao país. Segundo importantes autoridades brasileiras, o tema mais importante a ser discutido será o tão aguardado Corredor Rodoviário Bioceânico, que ligará os oceanos Atlântico e Pacífico por meio dos portos do norte do Chile. E estaria quase pronto.
Também conhecido como Corredor de Capricórnio ou “Canal do Panamá Brasileiro”, o megaprojeto conecta por terra as regiões do Mato Grosso do Sul, no Brasil, com o Chaco paraguaio e as províncias de Salta e Jujuy, na Argentina, terminando em Iquique, Mejillones e Antofagasta, atingindo uma extensão de 2.300 quilômetros (algo como a distância de Santiago a Chiloé e vice-versa).
“No ano que vem, essa rota estará pronta, e tanto a exportação de produtos brasileiros pelo Chile para os mercados asiáticos quanto a importação de produtos chilenos para o Brasil serão uma tremenda oportunidade para ambos os países”, disse o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, durante o lançamento da pedra fundamental da fábrica de celulose Sucuriú da Arauco em seu estado.
Além disso, a ministra do Planejamento e Orçamento da gigante sul-americana, Simone Tebet, disse no evento que esteve no Chile no final de março e se reuniu com o ministro de Obras Públicas e o ministro da Economia para discutir o assunto.
Ele acrescentou: “No dia 22 de abril, o presidente Boric se reunirá com Lula para discutir esse caminho de integração, e ele trará empresários e investidores chilenos. Sonhamos com a integração sul-americana há 40 anos.”
Por sua vez, o presidente interino do Brasil, Geraldo Alckmin, confirmou que as obras do lado brasileiro estão praticamente concluídas e comemorou: “Essa rota trará um crescimento exponencial extraordinário para essa região”.
“Ainda este ano”
Tebet, com uma longa experiência política, foi um dos principais proponentes e negociadores do Corredor e disse que a rota poderia ser concluída “ainda este ano”.
Na mesma linha, e do Chile, o governador de Antofagasta, Ricardo Díaz — membro da Comissão de Alto Nível criada pelo governo para o desenvolvimento do Corredor — comentou que “a projeção é de que até o final deste ano ou início de 2026 começaremos a ver o início do transporte de cargas (pela rota)”.
Sobre o andamento das obras no norte do Chile, ele disse que “o Chile já concluiu a conectividade da fronteira até o porto”.
Assim, faltariam apenas a conclusão da ponte que liga Porto Murtinho a Carmelo Peralta, entre o Brasil e o Paraguai, e da Ponte Pozo Hondo que liga o Paraguai à Argentina. Ambos os projetos, segundo a imprensa desses países, estão 70% concluídos.
Vale lembrar que em agosto de 2024, o governo chileno anunciou um investimento de US$ 85 bilhões para melhorar a Rota 24, que liga Tocopilla a Calama e é uma parte fundamental do Corredor no Chile.
Várias fontes familiarizadas com o megaprojeto confirmaram à DF que o governo chileno fará um anúncio sobre a Rota Bioceânica nesta semana.
Rota principal em meio à guerra comercial
Com um timing quase perfeito, a conclusão do projeto mais ambicioso da América Latina — concebido há 10 anos — assume um significado especial dado o turbulento contexto global.
Rosario Navarro, presidente da Sofofa, que acompanhará o presidente ao Brasil e liderará a comitiva empresarial da visita, afirmou que “em um ambiente internacional turbulento e mutável, especialmente em meio a uma guerra tarifária, ter uma infraestrutura estratégica como essa é fundamental para diversificar nossas rotas, aumentar a resiliência de nossas cadeias produtivas e posicionar o Chile como um polo natural entre o Atlântico e o Pacífico”.
Ele acrescentou que o sindicato tem promovido fortemente o Corredor, “porque representa uma ação concreta para impulsionar o crescimento do país”, além de fortalecer o comércio e a integração regional, “facilitando o fluxo de bens e serviços e reduzindo significativamente os custos logísticos”.
Segundo a Presidência, o foco central da visita ao Brasil será a integração econômica, os investimentos e o comércio, fortalecendo a presença do Chile como seu principal parceiro comercial na região.
“Também faz parte da estratégia fortalecer a diversificação de aliados, em um contexto global particularmente desafiador”, indicaram. “Além disso, há uma afinidade política e harmonia entre os dois chefes de Estado”, afirmaram em La Moneda.
Sobre o Corredor, eles confirmaram que ele será discutido durante a viagem e que “o Chile está comprometido com esta iniciativa e pronto para avançar com sua implementação o mais rápido possível, especialmente porque o Presidente Boric tem um compromisso significativo com a integração regional”.
O embaixador do Chile no Brasil, Sebastián Depolo, enfatizou que “a América do Sul tem um baixo nível de comércio intrarregional, e podemos melhorar isso com produtos chilenos, argentinos, paraguaios e brasileiros transitando pelo corredor”.
“É uma situação significativamente vantajosa para todos, porque teremos mais transporte em nossos portos, e nossos parceiros regionais poderão acessar melhores tarifas em mercados que atualmente são os mais importantes do mundo”, acrescentou o representante diplomático.
A Comissão de Alto Nível para o Desenvolvimento do Corredor Rodoviário Bioceânico é liderada pelo Ministério da Economia e composta pelos ministérios do Interior, Relações Exteriores, Transporte e Telecomunicações, Fazenda e pelos governadores regionais de Tarapacá e Antofagasta.
Fonte: Minería & Desarrollo | Diario Financiero | AFP