BrasilBusinessChileCorredor Bioceânico

Opinião: Campo Grande – Iquique, rota direta Atlântico – Pacífico

Pedro Oróstica Codoceo

Hoje, a importância e o significado dos chamados Corredores Bioceânicos são inquestionáveis. Daí o fato de sua implementação ativa nos territórios dos países do Cone Central da América do Sul. Especialmente o extenso Corredor de Capricórnio, que se origina no Brasil e conecta os portos de Antofagasta, Mejillones, Tocopilla e, finalmente, Iquique. Também é fato que elas foram concebidas pela Prefeitura de Iquique, quando o atual senador Jorge Soria Q. era prefeito, mas levou décadas para que os governos nacionais unificassem seus critérios e começassem a implementá-las.

Atualmente, Brasil, Paraguai, Bolívia e Argentina têm interesse em se aproximar do Pacífico pelos portos do norte do Chile e do sul e centro do Peru. Isso visa proporcionar vantagens às suas respectivas produções, enviando-as por via marítima para os mercados asiáticos e para o resto do mundo. Razões pelas quais esses portos são essenciais nessa logística. Portanto, faz sentido que as estradas sejam o mais diretas possível para os terminais portuários. Ou seja, constituem saídas naturais de seus respectivos territórios produtivos. Uma questão que, em última análise, envolve reduções significativas de custos.

Essa vantagem é o que o Corredor Bioceânico Central oferece aos territórios ao longo de seu percurso. Que, partindo de portos atlânticos como Rio Janeiro, Santos, Paranaguá, chega a Campo Grande, passa pelo Paraguai e Bolívia e entra no Chile pela Hito 60. Chega aos portos de Iquique, Tocopilla, Mejillones e Antofagasta. Uma rota direta que evita que você tenha que viajar pela Argentina até Jujuy, cruzar a Cordilheira dos Andes para chegar a Antofagasta e, de lá, ao porto de Iquique. Aqui, a Bolívia, sem dúvida, desempenhará um papel geopolítico fundamental. Da mesma forma, o governo chileno, com a abertura do HITO 60 e a modernização dos portos do Norte.

Campo Grande – Iquique

Esta é a rota do Corredor Central, que chega a Tarapacá, conectando os oceanos Atlântico e Pacífico. E como já destacamos em ocasiões anteriores, esta projeção foi apresentada na Reunião de Prefeitos do Cone Central da América do Sul, realizada em Iquique em 1995. Esta começa no Atlântico brasileiro, percorre integralmente seu território no sentido leste-oeste, tocando, entre outras localidades: Campo Grande; Dourado; Puerto Murtinho, na fronteira com o Paraguai. Nessa época, está sendo construída a ponte sobre o grande Rio Paraguai, ligando Murtinho a Carmelo Peralta e, portanto, às duas nações.

No Paraguai, o percurso continua, entre outras localidades, por Loma Plata, Mariscal Estigarribia, Infante Rivarola, chegando à fronteira com a Bolívia na Hito Br 94, e daí até Villamontes, Tarija, Tupiza, Atocha, Uyuni, Rio Grande, Julaca, San Pedro de Quémez, chegando à fronteira com o Chile na Hito 60, na região de Tarapacá. Daqui são 24 quilômetros até Tenencia Ujina, ainda sem pavimentação. Deste ponto chega-se a Pozo Almonte, pela rodovia Inés de Collahuasi e depois Iquique. A partir daqui, pela Rota A5, você pode acessar os portos de Tocopilla, Mejillones e Antofagasta.

Esta rota é direta do Brasil para Iquique e outros portos do Norte do nosso país. No entanto, algumas obras ainda precisam ser concluídas: 1. conclusão da Ponte Murtinho, Brasil – Carmelo Peralta, Paraguai. 2. Conclusão da pavimentação da rodovia Mariscal Estigarribia a Pozo Hondo. 3. Pavimentação do trecho boliviano Uyuni – Hito 60. 4.- Pavimentação de 24 quilômetros, de Hito 60 até Tenencia Ujina no Chile. 5. Além disso, e especialmente, decisões geopolíticas, administrativas e culturais decisivas na Bolívia. Espera-se que sua entrada no MERCOSUL traga novos paradigmas ao país irmão.

Bolívia no MERCOSUL

Demorou alguns anos para que isso se concretizasse. Mas hoje a Bolívia já faz parte do Mercado Comum do Sul, o MERCOSUL. Isso ocorre após a promulgação da Lei 1567 pelo presidente Luis Arce, em 4 de julho deste ano, que formaliza sua filiação a esta organização de países sul-americanos. Nesse sentido, a imprensa destaca o que disse a ministra das Relações Exteriores, Celinda Sosa, destacando que “os benefícios são enormes, não só no âmbito comercial, mas também nas possibilidades de trânsito pelos países vizinhos”. Seria verdade que uma mão lava a outra e ambas lavam o rosto.

Portanto, é de se esperar que essas ideias sejam acordadas. E, por fim, a Bolívia facilitará o trânsito por seu território de veículos que transportam produtos dos países do Mercosul até os portos do norte do Chile e do sul do Peru. Da mesma forma, leis e acordos relativos ao costume de bloqueios de estradas seriam pertinentes. Vale lembrar também que, após a visita do presidente Lula da Silva a Santa Cruz, foi anunciado que o Brasil teria cinco rotas para chegar ao Pacífico. Dos quais 2 passariam pela Bolívia. Talvez um deles seja o Corredor Central.

Abertura do HITO 60

Para o Corredor Central, essa abertura alfandegária é vital. Já a rota de Campo Grande, que atravessa o Paraguai e a Bolívia, entra no Chile por este ponto. Lembremos que o ex-prefeito Jorge Soria Q. notificou a Chancelaria chilena sobre a abertura deste. Entretanto, no Ofício 1728 de 22 de dezembro de 2014, do Ministério das Relações Exteriores do Chile, consta que “A parte boliviana, em nível central, naquele momento não respondeu aos sucessivos convites feitos por este Ministério e pela DIFROL…”. No entanto, hoje, o governo central da Bolívia e seus territórios do sul estão exigindo isso e estabelecendo acordos para que isso aconteça.

É por isso que este pedido para estabelecer o controle de fronteira em Hito 60 foi apresentado pelas autoridades centrais bolivianas ao Ministério das Relações Exteriores do Chile. Isso ocorreu na última reunião do Comitê de Fronteiras e Integração, realizada na cidade de Arica, em setembro de 2023. As autoridades chilenas responderam positivamente a essa solicitação, mas ainda não será possível devido à falta de recursos necessários para estabelecer esse novo posto avançado nesta passagem de fronteira. Enquanto isso, os governos locais no sul da Bolívia continuam se organizando para ter tudo pronto quando o Chile estabelecer o controle alfandegário em Hito 60.

Bolívia e Paraguai no Corredor Central

O Paraguai está atualmente comprometido com o Corredor de Capricórnio, pois não pode esperar indefinidamente que a Bolívia estabeleça acesso através de seu território para chegar ao Pacífico. Entretanto, em 4 de novembro de 2004, uma Declaração foi emitida na Honorável Câmara dos Deputados da Bolívia que, entre outros pontos, declarou: “Nos comprometemos a tomar todas as medidas necessárias… para finalizar o Corredor Bioceânico Central para unir Brasil, Paraguai, Bolívia, Chile, Argentina e ligar Uruguai e Peru.” Mas isso não aconteceu. Talvez agora seja a hora para isso.

Enquanto isso, o governo paraguaio, por meio de seu Ministério de Obras Públicas e Comunicações, na Resolução 677 de 26 de outubro de 2004, “declara de interesse institucional o desenvolvimento do projeto COBIE, o Corredor Bioceânico para a Integração Energética, e designa o gabinete do Vice-Ministro de Minas e Energia, dependente deste Ministério, como a instituição responsável e promotora em nosso país”. Eram tempos em que essas probabilidades eram levantadas diretamente.

Assim, entre outros escopos, indica-se que: “o COBIE terá uma extensão de dois mil setecentos e cinquenta (2750) quilômetros e compreenderá um conjunto de serviços de infraestrutura energética, ferroviária, elétrica, rodoviária (em andamento) e de telecomunicações, a serem desenvolvidos desde a cidade de Paranaguá, Brasil, (Costa Atlântica), até a cidade de Iquique – Chile (Costa do Pacífico), atravessando o Paraguai e a Bolívia em seu trajeto.” Essas citações de documentos oficiais de ambas as nações demonstram seu interesse mútuo no Corredor Central, o tópico que estamos discutindo hoje.

Corredor Central – POSTO DE ORIENTAÇÃO 60

Retornando ao Ofício 1718, citado anteriormente, no ponto 4 deste documento, podemos ler o que foi declarado pelo Diretor Nacional de Fronteiras e Limites do Estado (S) em relação ao HITO 60. Lembremos que esta resposta de 22 de dezembro de 2014 foi dirigida ao ex-prefeito do Ilustre Município de Iquique, Jorge Soria Quiroga, em resposta à solicitação de abertura desta passagem de fronteira. O objetivo é impulsionar uma rede integradora e produtiva não apenas para a Bolívia, mas também para os demais países que atualmente passam pela Argentina para acessar o Pacífico. Reproduzimos o texto.

“Como sabem, as autoridades nacionais responsáveis ​​pelos Transportes, Estradas e Obras Públicas também estão cientes das vantagens que proporcionaria o estabelecimento do posto fronteiriço “Hito 60” como passagem de fronteira a ser utilizada no chamado “Corredor Centro-Sul” que começa na República do Paraguai e permite a conexão via território boliviano com os portos chilenos de Iquique (229 km), Mejillones (430 km) e Antofagasta (490 km), mas enquanto a contraparte boliviana não aceitar os convites para retomar as reuniões políticas e técnicas bilaterais, é possível prever que a questão da abertura da referida passagem de fronteira será adiada.” E assim tem sido.

Conclusão

Atualmente, Brasil, Paraguai, Argentina e Chile têm feito grandes esforços ao longo da rota do chamado Corredor Bioceânico de Capricórnio para chegar ao Pacífico primeiro por Antofagasta e depois por Iquique. Cabe destacar também que Brasil e Paraguai, diante da postura da Bolívia de não permitir a passagem por seu território e dos seus habituais bloqueios rodoviários, os obrigaram a utilizar uma rota alternativa, como o Corredor Central, em substituição a uma rota direta. Que até hoje continua oferecendo condições geográficas convenientes.

Hoje, a Bolívia solicitou que o Chile abra um posto alfandegário em Hito 60. As autoridades chilenas concordaram com o pedido, mas ainda não é possível devido a restrições de recursos. A ponte que liga Murtinho e Peralta estará em operação em 2025. Da mesma forma, a conclusão da rodovia bioceânica paraguaia. A Bolívia agora tem os recursos para pavimentar a seção Uyuni Hito 60 e concluir o que foi apelidado de Corredor de Lítio. E igualmente importante é a capacidade do nosso país de operar portos que contrabalancem a supremacia portuária peruana.

Por fim, cabe destacar que esta análise é realizada a partir de uma perspectiva local-regional equidistante da política econômica central. Quem, em última análise, decide como isso é feito, quando isso é feito e com quem isso é feito. Entretanto, apesar do ritmo lento das práticas de descentralização, sempre é possível esperar progressos em direção a melhores condições nos contextos locais e regionais do país.

Fonte: Edición Cero CL

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *