China começa a discutir com Brasil projeto de ligação ferroviária do corredor bioceânico
Uma delegação da China composta por representantes do China State Railway Group e do Ministério dos Transportes do país asiático está no Brasil para discutir projetos de infraestrutura voltados à integração logística entre o território brasileiro e o Oceano Pacífico.
A iniciativa, segundo informações do SCMP, está inserida no contexto dos acordos estratégicos assinados em novembro de 2024 pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping, que incluem como um dos pilares das relações bilaterais a criação de uma rota terrestre ligando o Brasil ao litoral peruano.
De acordo com o secretário de coordenação institucional do Ministério do Planejamento, João Villaverde, a delegação chinesa manifestou interesse em estudar projetos relacionados a transporte ferroviário e alternativas logísticas ao longo do chamado Corredor Bioceânico.
“Este é o início de um relacionamento técnico para estudos aprofundados, particularmente em ferrovias… que giram em torno desses pilares estratégicos”, declarou o secretário ao Washington Post.
A comitiva iniciou sua visita na última sexta-feira e permanece no país por sete dias. Durante o período, os representantes chineses visitaram projetos de transporte em estados do Centro-Oeste e Norte do país, com foco em avaliar possibilidades de investimento em infraestrutura rodoviária, ferroviária e hidroviária.
Segundo informações da Casa Civil da Presidência da República, os estados visitados incluem Mato Grosso, Goiás, Rondônia e Acre.
Um dos principais temas das reuniões foi a proposta de reativação e reestruturação do Corredor Bioceânico, uma rota de integração que permitiria o escoamento de produtos brasileiros para o Oceano Pacífico sem a necessidade de utilizar rotas marítimas pelo Atlântico.
O projeto, inicialmente proposto em 2014, previa a conexão entre centros industriais brasileiros e portos no Chile. No entanto, segundo Villaverde, alterações na infraestrutura e na dinâmica comercial regional exigem uma revisão do traçado.
“Há nove anos, por exemplo, a Rodovia do Pacífico, que é a união de duas rodovias federais entre o Brasil e o Peru, não existia”, afirmou o secretário. Segundo ele, é atualmente possível realizar o trajeto de carro, caminhão ou ônibus entre os estados de Rondônia e Acre até a capital peruana, Lima, e até o porto de Chancay, apesar da necessidade de melhorias na pavimentação em alguns trechos.
O megaporto de Chancay, no Peru, é financiado pela China e foi inaugurado por Xi Jinping em novembro de 2024, durante a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.
O projeto teve investimento de US$ 3,5 bilhões e, segundo o governo chinês, está inserido em uma estratégia de diversificação das rotas comerciais do país asiático.
O terminal portuário é considerado estratégico para reduzir a dependência logística do Canal do Panamá, especialmente em função de tensões comerciais com os Estados Unidos.
Autoridades de Brasília e Lima buscam alternativas para garantir a conectividade do porto com o território brasileiro.
Segundo o Ministério do Planejamento, a criação de uma ligação ferroviária direta entre as regiões produtivas do Centro-Oeste e o litoral pacífico é uma prioridade da política externa e comercial do governo brasileiro.
Villaverde citou o exemplo de Assis Brasil, município localizado na fronteira entre o Acre e o Peru, onde as exportações brasileiras cresceram 130% entre janeiro e março de 2025, em relação ao mesmo período de 2024.
O secretário afirmou que a expansão da malha ferroviária e hidroviária pode ampliar ainda mais esse volume. “Uma ferrovia, assim como hidrovias em diferentes partes do nosso território, teriam um potencial significativo para aumentar o comércio intrarregional na América do Sul”, declarou.
Mauricio Muniz, secretário especial responsável pelo programa de aceleração do crescimento, também participou das reuniões com os representantes chineses.
Muniz afirmou que a visita representa uma oportunidade de apresentar a viabilidade do Corredor Bioceânico como alternativa de integração regional e de fortalecimento dos laços com a China. “Estamos honrados em receber a delegação chinesa”, declarou.
Durante a agenda, a delegação ainda deve visitar o Porto de Santos, em São Paulo, onde a gigante chinesa COFCO International está conduzindo um projeto de expansão avaliado em US$ 486 milhões.
O terminal ampliado deverá entrar em operação em 2026 e terá capacidade para movimentar até 14,5 milhões de toneladas de grãos e açúcar por ano.
Além disso, a COFCO adquiriu 979 vagões ferroviários e 23 locomotivas para o transporte de commodities agrícolas até o terminal portuário. A concessão do terminal de 98 mil metros quadrados foi obtida pela empresa em 2022 por meio de licitação pública e tem validade mínima de 25 anos.
O governo brasileiro avalia que os investimentos em logística, somados ao interesse chinês em infraestrutura regional, podem viabilizar uma rota contínua de transporte entre o Centro-Oeste brasileiro e o litoral do Pacífico. A cooperação técnica iniciada nesta semana será, segundo o Ministério do Planejamento, utilizada como base para futuras parcerias bilaterais em obras estruturantes.
Fonte: O Cafezinho