Caminhoneiros já colhem frutos da Rota Bioceânica antes da inauguração
Mesmo antes de ficar pronta, a Rota Bioceânica — corredor que vai ligar Mato Grosso do Sul ao Chile — já começa a transformar vidas. O projeto “Saúde na Estrada”, criado por professores e alunos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), tem levado exames gratuitos, orientações e atenção básica de saúde para caminhoneiros que passam por Campo Grande.
A iniciativa funciona de forma simples: pesquisadores montam tendas em postos de combustíveis e atendem os motoristas no fim do dia, horário em que conseguem descansar. Em poucos minutos, o caminhoneiro passa por uma checagem geral de saúde, com exames e até conversa com os profissionais. O objetivo é cuidar de quem passa a maior parte da vida dirigindo pelas estradas, muitas vezes sem tempo para ir ao médico.
O que começou como uma ação pontual virou um exemplo de política pública. Entre os atendidos, mais da metade apresentava risco alto de ter um infarto, AVC ou trombose nos próximos anos. Além disso, 10% testaram positivo para sífilis. Sem o projeto, muitos deles nem saberiam que estavam doentes.
A coordenadora do projeto, professora Alessandra Machado, defende que o programa seja ampliado para outras cidades do trajeto da Rota Bioceânica, como Porto Murtinho e Bataguassu. Mas para isso, ela reforça que é preciso mais apoio e financiamento. “Já atendemos 500 pessoas e fizemos mais de dois mil exames. Agora queremos ir mais longe, inclusive para outros países que fazem parte da Rota”, explica.
O reitor da UEMS, Laércio de Carvalho, lembra que o caminhoneiro saudável evita acidentes nas estradas. “Antes mesmo de a Rota ser inaugurada, já estamos cuidando de quem vai fazer esse corredor funcionar. Caminhoneiro com saúde ajuda a reduzir tragédias nas estradas”, afirma.
A ação, que é apoiada por bolsas e editais do CNPq, UEMS e Fundect, também conta com a participação de universidades da Argentina e do Paraguai. A ideia é fazer da saúde dos caminhoneiros uma prioridade internacional.
A Rota Bioceânica deve começar a funcionar em 2026, ligando Campo Grande ao porto de Iquique, no Chile. Serão mais de 2,6 mil quilômetros cruzando quatro países. Mas, como mostra o projeto da UEMS, a estrada que une continentes também pode unir cuidados, saúde e cidadania.
Fonte: A Crítica