Bolívia e o futuro do Trem Bioceânico
A ideia de um Trem Bioceânico, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico, facilitando o comércio internacional e a integração regional, circula nesta parte do mundo desde a primeira década deste século.
Um dos objetivos era unir os portos de Santos, no Brasil, com Ilo, no Peru, ligando esses dois países ao nosso por meio de uma rede logística eficiente que facilitasse o transporte de mercadorias, o que beneficiaria as exportações e a economia regional.
Outros objetivos estratégicos do projeto do Trem Bioceânico eram conectar os mercados da América do Sul com a Ásia e facilitar o comércio entre os países do Mercosul.
Além de se tornar uma alternativa estratégica ao isolamento marítimo, pretendia-se também reduzir os custos logísticos e otimizar o transporte de mercadorias, reduzindo o tempo de viagem.
Também teria promovido a modernização das redes ferroviárias da Bolívia, melhorando a conectividade com os países vizinhos e fortalecendo nossas relações internacionais.
A Bolívia era um país-chave neste ambicioso projeto, e vários desafios precisavam ser enfrentados, como a necessária coordenação com outros países e o alto investimento necessário. Sua implementação teria gerado grandes oportunidades para a Bolívia e a região.
Agora, mais de 10 anos após a apresentação do projeto do Corredor Bioceânico, ele enfrenta diversos desafios que estão alterando sua composição, como a instabilidade política e os bloqueios na Bolívia.
A declaração conjunta Bolívia-Brasil falava em rotas de conectividade multimodal ferroviária, fluvial e aérea que promoveriam a integração. Infelizmente, as prioridades mudaram, abandonando esse objetivo.
Agora, a China, juntamente com o Peru e o Brasil, estão traçando a nova rota do Trem Bioceânico sem passar pela Bolívia. O que aconteceu para deixar nosso país fora deste projeto? Para muitos, é uma injustiça, mas, na realidade, é resultado de erros cometidos ao longo do tempo.
O IBCE já alertava para isso em 2022, quando afirmou que a Bolívia estava sendo excluída do Trem Bioceânico, não por acaso, mas por causas subjacentes:
Infraestrutura rodoviária insuficiente. Nosso país nunca construiu as conexões necessárias para se integrar plenamente aos corredores logísticos. Enquanto Brasil e Peru modernizam rodovias, ferrovias e portos com ajuda chinesa, a Bolívia continua a depender de estradas deterioradas.
– Falta de políticas públicas claras e consistentes. As decisões do governo boliviano têm sido erráticas, demonstrando uma falta de continuidade, o que afugenta investidores.
Caminhoneiros de países vizinhos, como Peru e Brasil, evitam cruzar o território boliviano por medo de ficarem retidos por dias ou até semanas.
Paraguai, Argentina e Chile, excluídos do primeiro projeto do trem bioceânico, juntamente com o Brasil, já possuem um segundo projeto, que também excluiu a Bolívia.
Em meados de maio deste ano, no IV Fórum Ministerial CELAC-China, a Ministra das Relações Exteriores, Celinda Sosa, solicitou a consideração da inclusão da Bolívia no Corredor de Integração Ferroviária Bioceânica, que a nação asiática está promovendo para conectar os oceanos Atlântico e Pacífico através dos portos de Santos, no Brasil, e Chancay, no Peru.
Uma das principais vantagens do Trem Bioceânico é que ele poderia reduzir significativamente os custos e os tempos de transporte de cargas, o que beneficiaria exportadores e importadores da região. Além disso, o projeto poderia criar empregos e estimular o crescimento econômico nas áreas atendidas pelo trem. Da mesma forma, ao melhorar a conectividade e reduzir os custos de transporte, o Trem Bioceânico poderia aumentar a competitividade das empresas regionais no mercado internacional. No entanto, o projeto também enfrenta desafios, como a necessidade de coordenar os esforços dos diferentes países envolvidos e garantir sua viabilidade financeira. Apesar desses desafios, o Trem Bioceânico tem potencial para ser um projeto emblemático que impulsiona o desenvolvimento e a integração regional.
O Trem Bioceânico representa uma oportunidade única para a Bolívia. Nós, líderes empresariais, acreditamos que é essencial trabalharmos juntos para garantir a inclusão do nosso país neste projeto. Com diálogo, investimento e mobilização, podemos tornar o Trem Bioceânico uma realidade e contribuir para o desenvolvimento econômico da Bolívia, proporcionando acesso eficiente aos portos do Pacífico, principalmente ao porto de Chancay.
O autor é economista, acadêmico titular da ABCE e presidente da Federação de Empresários Privados de La Paz (FEPLP).
Fonte: El Diario